DIA MUNDIAL DA SAÚDE MENTAL – 10 outubro 2025

Incluídos num mundo global considera-se primordial o reforço do conhecimento científico e a participação dos diferentes cidadãos em matéria de saúde mental e cuidados psiquiátricos.

A literacia em saúde mental implica que se reforcem as iniciativas e se conjuguem saberes, competências e recursos, para sinergicamente a reforçarmos, dado sabermos que é um pilar essencial para progredirmos continuamente enquanto sociedades saudáveis, inclusivas, desenvolvidas, amigáveis e sustentáveis.

Nesta senda, quando se assinala mais um dia dedicado mundialmente à reflexão/ ação na área saúde mental, decidimos partilhar um contributo para catalisar o diálogo e a discussão necessários não apenas à promoção de níveis superiores de bem-estar e de saúde mental, mas também, ao desenvolvimento da consciência crítica e informada sobre os diferentes determinantes e as multifacetadas dimensões envolvidas na manutenção da mesma ao longo do ciclo vital. Visa-se ainda contribuir para que se aperfeiçoem as respostas, adequando-as em continuidade, às necessidades identificadas na área da saúde mental por todo o mundo.

O relatório World mental health today: Latest data (OMS,2025) constitui-se como uma base sustentada, quer do ponto de vista teórico quer científico, para estimular o diálogo e a reflexão sobre um tema e uma causa prioritária para a saúde das diferentes populações e países.

Com o propósito de contribuirmos para a disseminação do relatório na região, tornando algum do seu conteúdo mais acessível em português, procedeu-se à tradução (de responsabilidade pessoal de Isabel Fragoeiro, Coordenadora do ORSMM) de pequenos excertos, que apresentam não só uma síntese sumária dos capítulos integrantes do relatório, mas também sublinham alguns dados relevantes sobre a realidade epidemiológica sobre o estado da saúde mental a nível mundial.

Adverte-se o leitor para o “amadorismo” da tradução apresentada, bem como para a insuficiência dos conteúdos e dados referidos para uma melhor compreensão do conteúdo do relatório, o que torna indispensável a consulta direta e atenta do relatório original (em inglês), possível através do link subsequentemente indicado.

Fica aqui expressa a conclusão de que os dados apresentados e comentados no relatório são globais não permitindo extrapolações localizadas sob pena de perderem a robustez científica que os caracteriza, a qual é de suma importância para qualquer análise devidamente fundamentada.

Atentamente,

Isabel Fragoeiro

(ORSMM; Funchal, 10 outubro 2025)

Breve síntese

Recentemente foi divulgado pela Organização Mundial de Saúde (2025) um relatório sobre a Saúde Mental no Mundo na atualidade – World mental health today. Latest data. Trata-se de uma atualização do capítulo referente aos dados do anterior 2022 World mental health report: transforming mental health for all. Inclui os dados mais recentes sobre a prevalência, burden e custos relativos às condições de saúde mental – dados indispensáveis para delinear (shaping) respostas efetivas baseadas em evidências cientificas. Baseando-se no The mental health atlas 2024 (WHO), esta atualização “traz luz” igualmente sobre a disponibilidade de recursos para a saúde mental, incluindo as lacunas persistentes de respostas na cobertura dos serviços, financiamento e capacidade da força de trabalho especializada.

Este relatório oferece uma compreensiva (alargada) base para discussão das ações para melhorar a saúde mental no mundo. Lembra-nos que a saúde mental não é um assunto periférico mas sim central para melhorar a saúde e o bem-estar global e para alcançar cobertura de saúde universal, assim como, outros Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável do Milénio.

O relatório dirige-se a todos – governos, profissionais de saúde, investigadores e membros da sociedade civil – encorajando-os a usá-lo para conduzir a mudança transformadora necessária. Não serve apenas como um relatório sobre o status da saúde mental, mas como um catalisador para um maior compromisso, investimento mais inteligente, e para políticas de saúde mental mais equitativas.

Como já foi dito antes, não há saúde sem saúde mental. (Tedros Adhanom Ghebreyesus, Diretor Geral, WHO, 2025).  

Os conteúdos incluídos no relatório distribuem-se por 5 capítulos e vários subcapítulos, nomeados seguidamente:

1. Introdução
2. Panorama epidemiológico
   1. Prevalência
   1. Mortalidade
   1. Burden
3. Consequências económicas
4. Lacunas nos sistemas de saúde mental
   1. Lacunas de informação
   1. Lacunas de governação
   1. Lacunas nos recursos
   1. Lacunas nos serviços
5. Conclusão

Referências

Do sumário executivo salientam-se as seguintes constatações:

As necessidades de saúde mental são elevadas mas as respostas são insuficientes e inadequadas.

Mais de 1 bilião de pessoas no mundo vivem com uma perturbação mental (mental disorder).

Um (1) trilião de dólares perde-se na produtividade devido à depressão e à ansiedade.

Apenas 9% das pessoas com depressão recebem tratamento adequado.

Entre outros aspetos a Introdução refere que as condições de saúde mental são generalizadas, pouco tratadas e são-lhes alocados poucos recursos:

Uma (1) em cada 7 pessoas  vive com um transtorno (perturbação) mental;

71% das pessoas que sofrem de psicose não recebem serviços de saúde mental

1,4% ou menos dos orçamentos dos países de baixos e médios rendimentos, em média, são alocados para a saúde mental.

Terminologia e dados utilizados para  abordar a saúde mental do mundo

Para o grande grupo de stakeholders possíveis, é usado no relatório um termo “guarda chuva” – condições de saúde mental que englobam perturbações mentais, deficiências psicossociais e outros estados de saúde mental associados com o distress, limitações funcionais ou ainda risco de auto-agressão.

Para descrever dados de prevalência e apresentar estimativas globais de saúde é utilizado o termo transtorno (perturbação) mental (mental disorders), atendendo a que o mesmo reflete com maior acurácia os dados que são coletados e reportados, e o seu sentido está claramente definido pela classificação internacional de doenças – 11ª revisão (ICD-11) da autoria da WHO.  

O termo burden of disease é apenas utilizado em relação a dados epidemiológicos publicados e acedidos. É um termo standard usado em saúde pública para estimativas relativas ao nível de impacto (como por exemplo: anos de vida ajustados por incapacidade, anos de vida perdidos devido a morte prematura e anos de vida perdidos devido a deficiência).

Dados epidemiológicos – abrangem incidência de doenças, prevalência, mortalidade, distribuição e determinantes – que são importantes para compreender as tendências em saúde e para  planear, dispensar e avaliar os serviços e os  programas de saúde. E os dados relativos ao sistema de saúde mental – políticas, legislação, recursos e dispensa de cuidados – são especialmente vitais para estes processos. (Relatório, p.3)

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Conclusão (capítulo 5, relatório, p. 48)

O relatório foi redigido baseado nos últimos dados epidemiológicos e sobre os sistemas de saúde para sublinhar o estado da saúde mental e dos sistemas de saúde mental no mundo. Confirma que as necessidades de saúde mental continuam vastas e onipresentes, e mostra que as respostas mantêm-se grosseiramente insuficientes e inadequadas.

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Os  dados apresentados são mais do que números. São uma chamada  ao “acordar” (wake-up call). Em 2025 mais do que metade dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para o Milénio previstos para atingir em 2030, continuam “fora do caminho” para cumprir a meta 3.4., que inclui promover a saúde mental e o bem-estar como “núcleos essenciais” (a core componente alongside) para reduzir um terço da mortalidade prematura devido a doenças não comunicáveis e suicídio.

Sem ações coordenadas, aceleradas e inteligentes, centenas de milhões de pessoas continuarão a sofrer desnecessariamente, e os objetivos alargados (vastos) para o desenvolvimento sustentável continuarão fora de alcance.

Este relatório providencia dados essenciais para guiar o diálogo nacional e global. Salienta (hightlights) onde o progresso tem ocorrido e onde as lacunas críticas persistem. É uma ferramenta com utilidade e importância para os decisores políticos, “implementadores” (atores/ operacionalizadores) e advogados “da causa” Saúde Mental.  

World mental health today: Latest data (OMS,2025)

(Síntese e tradução adaptadas por Isabel Fragoeiro (PhD em Saúde Mental, Universidade da Madeira, Escola Superior de Saúde)