Saúde Mental no Trabalho

Saúde Mental no Trabalho

Segundo a OMS em 2022 aproximadamente 15% das pessoas adultas em idade ativa tinha uma perturbação mental em qualquer momento no tempo.

 Na globalidade até ao final de 2019, 301 milhões de pessoas viviam com ansiedade, 208 milhões com depressão, 64 milhões com esquizofrenia ou perturbações bipolares e 703 000 pessoas morreram devido a suicídio em cada ano.  Muitos destes indivíduos estavam em idade ativa no trabalho. Os custos económicos associados às condições de saúde mental mais prevalentes (como a ansiedade e a depressão), foi estimado em 3 triliões de dólares cada ano e derivam da perda de produtividade.  As pessoas que vivem com condições severas de saúde mental incluindo desordens psicossociais (como esquizofrenia e desordens bipolares) são, por razões como o estigma e a discriminação, frequentemente excluídas do trabalho apesar da participação nas atividades económicas ser importante para a sua reabilitação psicossocial.

O trabalho é um determinante social da saúde mental. Um trabalho gratificante é protetor para a saúde mental; contribui para um senso pessoal de realização, confiança nas capacidades próprias, para a reabilitação psicossocial e para a inclusão de pessoas que vivem com disfuncionamentos psicossociais. No entanto, condições de trabalho prejudiciais ou pobres, ambientes de trabalho perigosos e más relações de trabalho ou desemprego bem como a exposição prolongada a estes, pode contribuir significativamente para o agravamento da saúde mental ou exacerbar as condições de saúde mental pré- existentes.


Existe um consenso razoável sobre a influência de certos riscos, também chamados de riscos psicossociais, sobre a saúde mental no trabalho.

O Quadro 1 lista alguns desses fatores de risco, mas há muitos riscos adicionais que podem ser específicos de determinados países ou ocupações, e os riscos emergentes são vistos como a cultura de mudanças no trabalho ao longo do tempo ou como resultado de grandes mudanças sociais ou eventos como uma pandemia ou conflitos globais.

Quadro 1. Riscos psicossociais para a saúde mental no trabalho

Dez categorias de fatores de risco para problemas de saúde mental (bem como problemas de saúde física) relacionados ao local de trabalho amplamente identificados:  Conteúdo do trabalho/design da tarefa:
por exemplo, falta de variedade ou ciclos de trabalho curtos, trabalho fragmentado ou sem sentido, subutilização de competências, elevada incerteza, exposição contínua às pessoas através do trabalho;
Carga horária e ritmo de trabalho:
por exemplo, sobrecarga ou subcarga de trabalho, ritmo da máquina, altos níveis de pressão de tempo, sujeição contínua a prazos;
Horário de trabalho:
por exemplo, trabalho por turnos, turnos noturnos, horários de trabalho inflexíveis, horários imprevisíveis, horários longos ou anti-sociais; ▶ Controle:
por exemplo, baixa participação na tomada de decisões, falta de controle sobre a carga de trabalho, ritmo, etc.;
Ambiente e equipamentos:
por exemplo, disponibilidade, adequação ou manutenção inadequadas do equipamento; condições ambientais precárias, como a falta de espaço, pouca iluminação, ruído excessivo;
Cultura e função organizacional:
por exemplo, má comunicação, baixos níveis de apoio à resolução de problemas e desenvolvimento pessoal, falta de definição ou acordo sobre objetivos organizacionais, mudança organizacional; alta competição por recursos escassos, burocracias excessivamente complexas; ▶ Relações interpessoais no trabalho:
por exemplo, isolamento social ou físico, relacionamentos ruins com superiores, conflito interpessoal, trabalho prejudicial, falta de apoio social (percebido, real); comportamentos como bullying, assédio, mobbing; microagressões;
Papel na organização:
por exemplo, ambiguidade de papéis, conflito de papéis e responsabilidade por outras pessoas;
Progressão na carreira:
por exemplo, estagnação e incerteza na carreira, subpromoção ou superpromoção, baixos salários, insegurança no emprego, baixa valorização do trabalho; ▶Interface casa-trabalho:
por exemplo, demandas contraditórias de trabalho e casa, inclusive para pessoas com responsabilidades de cuidado, baixo apoio em casa, problemas de carreira dupla; morar no mesmo local onde o trabalho é realizado, morar longe da família durante as atribuições de trabalho.  

O tamanho do problema de saúde pública relativo às condições de saúde mental é maior do que o volume de investimento para resolvê-lo, apesar das convenções internacionais apelando à proteção da saúde física e mental dos trabalhadores através das políticas nacionais de segurança e saúde. Programas de saúde mental relacionados à promoção e prevenção de condições de saúde mental no trabalho estão entre os menos frequentemente relatados pelos países (35%).

A promoção do bem-estar mental e a prevenção de condições de saúde mental têm sido reconhecidas como meios de alcançar a prioridade global  – redução da prematuridade na
mortalidade por doenças crónicas não transmissíveis (DCNT) em um terço (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, meta 3.4). A Ação Abrangente de Saúde Mental da OMS. O Plano de Saúde Mental 2013-2030 (OMS) estabelece um objetivo global para a promoção e prevenção assim como para a prestação de informações abrangentes, serviços de saúde mental  integrados e responsivos na comunidade (incluindo nos locais de trabalho).

A estratégia global da OMS sobre a saúde, o ambiente e as alterações climáticas identifica
os locais de trabalho como contextos essenciais para a prevenção de riscos modificáveis, particularmente para Doenças Não Transmissíveis.
Os distúrbios mentais são reconhecidos na lista de distúrbios ocupacionais da Organização Internacional do Trabalho que foi revista em 2010, como «perturbações mentais e comportamentais».  Alguns países estenderam a sua lista para cobrir o stresse relacionado ao trabalho, o esgotamento, a depressão e os distúrbios do sono. Alguns também reconhecem o suicídio relacionado com o trabalho e incluem-no nos seus sistemas de reporte, notificação e compensação.

O bem-estar é uma indústria bilionária, onde as intervenções relacionadas com a saúde mental podem ficar desreguladas pela sua qualidade ou base de evidência. Embora vários países e sociedades profissionais tenham diretrizes sobre o tema de trabalho e saúde mental, estas são específicas da população do país. Padrões internacionais sobre saúde mental no local de trabalho têm sido desenvolvidos, com foco especializado na gestão dos riscos psicossociais.

As pessoas em idade ativa gastam uma proporção significativa do seu tempo no trabalho. Estima-se que 62% do mercado global da população com 15 anos ou mais de idade é economicamente ativo. O trabalho apresenta uma oportunidade para promover a saúde mental e prevenir e apoiar as pessoas que vivem com condições de saúde mental.

Até o momento, diretrizes globais baseadas em evidências para a promoção, prevenção e apoio de saúde mental relacionada ao trabalho faltam. Esta justificativa destaca a necessidade das mesmas no presente.

(texto adaptado por Professora Isabel Fragoeiro a partir de WHO – Guidelines on mental health at work, 2022 – pp. 2 -4). Disponível em Mental health at work

ORSM

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